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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Bala! Bala! Bala!

Era próximo a Rua Aliança. Eu, meu irmão Neto e mais dois garotos esperávamos na calçada e um primo remexia o mato e com uma corda ele desceu puxando um boneco e com um sorriso no rosto ele disse: - “Este é nosso Judas. É sábado! Sábado de aleluia!”

Começamos a puxar o Judas pela rua de terra, já não éramos mais cinco moleques, uns vinte a vinte cinco e iam aparecendo mais. Alguns pulavam os muros de suas casas, outros a gente encontrava pela rua. Tomamos o caminho da cidade.


No inicio da Avenida Siqueira Campos vários moleques começaram a chutar o Judas. Entrei na brincadeira e chutei com toda minha força. A cabeça do boneco separou do corpo. A molecada ficou indignada, cercou-me, para minha sorte meu irmão entrou no meio. Naquele tempo ele era um pouco maior que a maioria e meu primo deu um nó com os panos entre a cabeça e o corpo e nosso Judas ficou mais feio.

Eu não me lembro do primeiro bar em que a gente parou: a pastelaria do chinês na praça Conde Frontin! Não tem como esquecer! A molecada gritando “bala”, e o pobre imigrante do oriente tentava dizer que não ia dar... Não perdoamos, gritamos mais alto, alguns gritos foram ofensas. Hoje eu entendo o oriental, ele não conhecia nossa cultura, dar ou não balas era uma decisão dele.

Outra situação interessante foi na antiga rodoviária quando um menino e uma menina com roupas melhores do que as nossas entraram no grupo, alguns dos nossos os cercaram dizendo: - "Vocês tem dinheiro para comprar bala!", - "Aqui não é pra riquinho!". Meu primo entrou no meio e disse que o Judas era dele e ele quem mandava.

O melhor aconteceu alguns metros à frente, ali na rua Rui Barbosa. Havia um supermercado do lado da rodoviária, o gerente veio com um enorme saco de balas. A gente não precisou gritar muito e ele já começou a jogar as balas para cima e com força. Era uma festa! As crianças se amontoavam, pulavam e pegavam as balas no ar e eu notei várias balas caídas atrás do gerente e corri para pegá-las. Neste momento o gerente deu um passo em falso, tropeçou em minha perna e caiu. As balas caíram em cima dele no chão e todos queriam pegar o máximo possível. Pensei que o pobre homem estaria bravo comigo, pura besteira de criança, seu rosto era só risada.

Aquele sábado de aleluia foi maravilhoso, uns dos melhores dias de minha infância, onde meninos e meninas, pardos, negros e brancos brincavam pelo centro da cidade em uma única festa.

Meu primo não queimou o Judas. Ele guardou para o próximo ano.





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