Foi meu primeiro emprego com carteira assinada. Era em empresa
que revendia botijão de gás. Era ajudante de caminhão, entregava em bares.
Naquele tempo era permitido a venda em bares. Entregava à domicílio de caminhão
ou numa bicicleta.
Naquele tempo não tinha musica ou alto-falante, tinha que ser no
grito mesmo, caminhando na frente e gritando: - "olha o gás", e o
caminhão logo atrás. Minha dicção era horrível e à maioria das pessoas
entendiam: -"Olllgaaaa".
Em uma venda lá no Parque Santo Antonio, em um tipo de
condomínio subi o primeiro lance de escadas e nada do cliente. Subi o segundo e
nada do cliente, o terceiro e só no quarto andar que consegui deixar o botijão
cheio e descer com o vazio.
No mesmo dia tive que subir uma ladeira, pequeno caminho de
terra com mato dos dois lados. Não havia nenhuma dificuldade até a cliente
soltar o botijão vazio ladeira a baixo. Tive que jogar o botijão cheio no mato
e pular o vazio.
A cada dia da semana íamos a um bairro diferente, primeiras
horas de trabalho eram as melhores, trocávamos os botijões e nas cozinhas
sempre tinha uma mocinha tomando seu café. Eu trocava o botijão e às vezes
rolava uma paquera.
Tudo isso acabou quando passei a fazer entregas de bicicleta lá
no bairro São João. As meninas tomando café eram raras, entregava um botijão e
quando voltava já tinham outros dois ou três para ser entregues. Era rápido com
a bicicleta. A minha dificuldade era com os nomes das ruas.
Certa vez quando cheguei de uma entrega e o rapaz que anotava os
pedidos me passou outro, perguntei a ele: - "Onde fica esta rua?", e
ele respondeu: - "Na mesma rua que você acabou de entregar".
Outro fato que vale a pena relatar foi quando transportava dois
botijões na bicicleta, um atrás e outro na frente, ali no bairro Jardim
Jacinto. Cortei caminho por uma viela de paralelepípedos e, de repente ouvi ou
barulho. Reduzi a velocidade da minha bicicleta e o botijão que estava na
garupa me ultrapassou e chocou-se com um muro ali próximo.
Meu último dia foi um dos mais interessantes. Tinha jogo da
copa, Brasil x França. Logo de manhã apareceu um senhor encomendando um botijão
e o endereço era "Travessa da Avenida Santa Helena, número alguma
coisa". Atravessei toda Avenida Santa Helena e entrei na travessa, e nada
do número alguma coisa. Voltei com o botijão. O senhor apareceu e confirmou o
endereço e, novamente cheguei lá e nada do número tal. O senhorzinho voltou na
revenda e xingou todos. Para minha sorte eu estava fazendo outra entrega e,
pela terceira vez, montei em minha bicicleta e fui enfrentar a Avenida Santa
Helena. Naquele tempo não tinha muito trânsito. Na contra mão, quando contornei
um caminhão estacionado, do nada apareceu um japonês de motocicleta. Foi pneu
contra pneu... Não sei o tamanho do impacto, só sei que a roda da bicicleta que
diziam ser de aço virou um oito e o botijão foi parar nas coxas do japonês.
Acredito que o pobre motoqueiro não tinha carta de motorista, me disse algumas
palavras que não posso escrever nessa crônica e sumiu. Coloquei o botijão na
bicicleta e fui empurrando a até a tal Travessa. Descobri que existia a
Travessa da Travessa da Avenida Santa Helena. O senhor também me disse algumas
palavras que não posso escrever aqui. Peguei o botijão vazio, o cheio já estava
pago. Deixei a bicicleta para consertar e, com o botijão nas costas voltei para
o depósito. Pedi demissão e fui ver o Brasil perder para a França.
Pedro Paiva –
Email: pedroalmox@hotmail.com
Muito interessante e divertida sua história Pedro, parabéns. Se não puder falar-lhe novamente, tenha uma boa vida..
ResponderExcluireheheheh As coisas quando têm que correr mal correm mal. Até o Brasil perdeu com a França! 😄
ResponderExcluirBelíssima crônica e blog.
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