Eu a vi hoje em seu portão.
Minha inimiga da infância, aquela que furava as bolas de plástico e que nos chamava de moleques, e que tinha sempre um olhar de reprovação aos meninos e meninas que moravam naquela vila familiar. Estava bem mais velhinha e se apoiando em seu antigo pequeno portão.
Seu olhar era de observação ou de espera por um parente que talvez não viesse. A campainha era a mesma que tantas vezes apertei e sai correndo, e quantas vezes fomos xingados. Éramos muitos e apareciam outras crianças da rua para atrapalhar sua vida.
Esta rua Pompílio Mercadante mudou, não tem mais paralelepípedo. As casas residenciais foram derrubadas ou se transformaram em comércio e outros comércios desapareceram como a padaria Santa Terezinha, o Super Mercado Popular e a Pastelaria Jacareí. As meninas e os garotos se foram quando cresceram e minha inimiga de infância venceu! E suas tardezinhas se tornaram tranquilas.
Hoje não tenho mais os pensamentos de criança. Vejo minhas maldosas brincadeiras de infância como tolas vinganças e minha antiga inimiga tendo razão em ficar furiosa: quando a bola ultrapassava aquele muro enfeitado de cacos de vidro e quebrava suas rosas e margaridas, quando ao atender a porta não encontrava ninguém e quando não podia assistir ‘sua novela’ devido à gritaria de dezenas de monstrinhos em seu portão.
Minhas desculpas são desnecessárias, éramos crianças com uma visão de mundo muito pequena, cheia de preconceitos e ignorância. Hoje vejo com saudades aqueles momentos onde podíamos correr descalços e sem camisa, sem pensar no que é certo ou errado, com a liberdade que os adultos não tinham.
Espero passar várias vezes pela rua Pompílio Mercadante e ver, e talvez até conversar com esta minha inimiga de infância!
Muito bom seu texto também lembro com saudades os passeios de domingo que fazia quando criança nestas ruas da cidade como mudou o cenário de nossa infância.
ResponderExcluirMuito bom seu texto também lembro com saudades os passeios de domingo que fazia quando criança nestas ruas da cidade como mudou o cenário de nossa infância.
ResponderExcluirAmigo Pedro Paiva, gostei muito do seu texto e tenho para si a resposta da sua "inimiga da infância". Espero que goste. Abraço. Tentei escrever em português do Brasil mas acho que está uma mistura. :) (y)
ResponderExcluirMOLEQUES DA MINHA RUA
Hoje vi-o passando frente ao meu portão.
Na infância ele era um moleque que morava em minha rua, sempre acompanhado de meninos e meninas da sua idade. Descalços e todos sujos, eram o terror da rua. Não tinha conta as bolas de plástico que chutavam por cima do muro do meu quintal, machucando minhas lindas rosas e margaridas. Não tinha conta as vezes que eles tentavam trepar ao muro para resgatar a bola, mesmo sabendo dos cacos de vidro que eu havia colocado no topo para os conter. Umas vezes, os moleques conseguiam resgatar a bola, mas quase sempre era eu que a apanhava e a furava com uma faca, ao mesmo tempo que observava a cara derrotada e triste dos moleques.
E quantas vezes aquele moleque tocava na campainha da minha porta, saindo correndo e se rindo com seus amigos, enquanto eu, indignada, barafustava com eles.
Muitos anos se passaram e hoje apenas o nome da rua continua Pompílio Mercadante que há muito não tem mais paralelepípedo. As pequenas casas de comércio e até a Pastelaria Jacaré onde muitas vezes ia tomar meu café da manhã, deram lugar a outros comércios e serviços. O casario foi substituído por prédios de vários andares, restando apenas a minha casa, com o muro agora sem cacos de vidro e com as minhas rosas e margaridas, que há muito nem o sol as faz sorrir.
Com a idade a pesar-me, eu sei que ele me viu ao passar frente ao meu portão e me reconheceu, talvez como a inimiga da sua infância.
A campainha toca. Quem será? Espreito pela janela e vejo o moleque feito homem com seus amigos e amigas. As minhas rosas e margaridas sorriem de novo e até o sol que antes estava encoberto, veio ver quem chegou, juntando-se às flores para me verem a abrir a porta e dar àqueles moleques o meu abraço de felicidade.
Que bacana! Gostei demais
ResponderExcluirMuito próprio de quem foi criança de verdade!
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